Na
semana passada, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE) divulgou um ranking global de educação, com base no PISA, exame
educacional mundial promovido pelo órgão. O Brasil ficou em 60º entre 76 países
analisados. O fraco desempenho dos estudantes brasileiros lançou o debate sobre
as falhas no sistema educacional do país.
Para
falar sobre o tema, o professor João
Batista Oliveira, especialista do Instituto Millenium e presidente do Instituto
Alfa e Beto, ONG que trabalha pela melhoria da Educação no país: para Oliveira, os gargalos que a Educação
enfrenta no Brasil não são por falta de verba. Atualmente, o país destina 6,1%
do PIB para a área, o que, segundo ele, é suficiente. “Comparado com outros
países, esse percentual é compatível. Falta de recursos não há. Tivemos um
aumento violento de recursos para a área e o resultado não tem melhorado em
nenhuma proporção compatível com isso. O problema é que há uma distribuição
muito mal feita, um mau uso da verba”, diz o professor.
Oliveira
defende a necessidade de uma reforma no sistema educacional, tema central de
seu livro “Reforma da Educação: Por onde começar”, de 2006. A reforma, segundo
ele, seria feita simultaneamente em três pilares: professor, escolas e gestão.
“O
primeiro passo é recrutar bons professores, que devem ser identificados ainda
no ensino médio. Alunos com bom desempenho, com aptidão para a profissão, devem
ser identificados já nessa época. O segundo passo é o treinamento adequado
desse profissional e a criação de um plano de carreira atraente. Por fim, é
preciso investir num bom sistema de gestão. As escolas precisam de diretores
com carreira e comprometidos com a instituição”, diz Oliveira. Segundo ele,
embora pareçam óbvias, essas medidas são feitas por todos os países que
alcançam um bom resultado no PISA.
O
relatório da OCDE cita a expansão do programa brasileiro Fundef como exemplo de
sucesso. O programa foi criado em 1997, e destinava fundos arrecadados pelos
estados e municípios ao ensino fundamental. Em 2006, o Fundef foi substituído
pelo Fundeb. Este ampliou a distribuição dos recursos a todas as etapas do
ensino escolar, incluindo os programas de educação de jovens e adultos.
Questionado
sobre a eficiência do programa, Oliveira diz discordar da avaliação da OCDE. “O
Fundef era muito melhor que o Fundeb. Ele tinha foco e, enquanto vigorou, deu
uma boa arrancada no ensino fundamental. Mas o Fundef diluiu o foco e a verba
do programa. É um reflexo da falta de paciência do Brasil, que não consegue
fazer uma coisa de cada vez”, diz Oliveira.
O
relatório da OCDE chama atenção para a relação entre a Educação e o crescimento
econômico dos países avaliados. Segundo a organização, se até 2030, todos os
jovens de 15 anos tivessem um nível básico de escolaridade, o PIB dos países
avaliados cresceria uma média anual de 3,5% acima do esperado, pelos próximos
80 anos. No caso do Brasil, esse percentual anual seria de 16,1%.
Tal
fato faria o país abandonar o chamado crescimento econômico de “voo de galinha”
e alcançar um desenvolvimento maduro e consistente. O problema é que a faixa
etária citada no relatório é exatamente uma das mais afetadas pela evasão
escolar no Brasil.
Para
Oliveira, o problema da evasão escolar não se deve à falta de vagas. O
professor afirma que as mazelas sociais obrigam o jovem a deixar a escola para
trabalhar. Depois, a falta de estímulo faz a pessoa não querer voltar a
estudar.
“No
Brasil, ninguém está fora da escola por falta de vagas, mas outras razões,
outras mazelas. Na faixa etária entre 15 e 17 anos a evasão aumenta porque o
ensino está muito ruim. Não há professores capacitados e o currículo escolar
precisa ser revisto. Os alunos não aprendem nada, são reprovados, rechaçados.
Eles não têm uma escola que os acolha, os receba, que se interesse por eles.
Não é uma questão quantitativa, mas de qualidade, de atendimento, de gestão”,
diz Oliveira.
Por
fim, Oliveira fala sobre a necessidade de se investir na formação técnica. Tida
como o “patinho feio” do sistema educacional, a formação técnica é alvo de
preconceito e vista como algo muito inferior ao ensino superior.
“No
mundo inteiro, entre 30% e 70% dos alunos de ensino médio fazem cursos profissionais.
No Brasil, há um preconceito contra isso. O Brasil tem mania de querer ser um
país de doutores, de bacharéis, onde o trabalho manual é mal visto. Para
completar, nos últimos anos, criou-se a ideia equivocada de que fora da
faculdade não há salvação. Nenhum país desenvolvido do mundo pensa dessa forma.
É um erro. Uma pessoa com nível técnico é bem integrada, tem uma vida melhor e
ganha bem. Esse preconceito contra o ensino técnico pune as pessoas que teriam
mais chances de fazer um excelente curso técnico, se engajar numa profissão e
ganhar sua vida de maneira decente”, critica Oliveira.
Fonte-opiniao