Um
brasileiro que vive na Austrália pode ajudar, com sua pesquisa, a responder uma
das questões mais intrigantes do mundo científico atual: por qual motivo as
abelhas estão sumindo em várias partes do mundo?
Paulo
de Souza, físico de formação, é o pesquisador líder da área de microssensores
da Organização de Pesquisa Industrial e Científica da Austrália, conhecida pela
sigla Csiro. Baseado na Tasmânia, desde setembro passado ele acompanha um
experimento com o intuito de determinar o que tem impactado a vida desses
insetos.
Souza
foi responsável por desenvolver um sensor, com tamanho de 2,5 por 2,5
milímetros e peso de 5 miligramas, que é colocado nas costas dos insetos. Ele
funciona como um “crachá de identificação”, pois transmite dados e registra o
que acontece com o inseto.
O
objetivo do microaparelho é acompanhar passo a passo os movimentos de 5 mil
abelhas, examinando a polinização feita por elas e sua produção de mel. Cada um
deles custa cerca de R$ 0,63.
Entre
as causas listadas como responsáveis pelo sumiço de abelhas estão o uso
excessivo de pesticidas, excesso de parasitas que afetam esses insetos,
poluição do ar e da água, além do estresse causado pelo gerenciamento
inadequado das colmeias.
Importância
A
mortalidade de abelhas ao redor do planeta ameaça ambos os processos. Entre as
possíveis causas já listadas estão o uso excessivo de pesticidas, como os
neonicotinoides, excesso de parasitas que afetam esses insetos, poluição do ar
e da água, além do estresse causado pelo gerenciamento inadequado das colmeias.
Investigar
essas e outras hipóteses é importante, porque pode evitar um possível caos
ambiental. O declínio, de acordo com o pesquisador, põe em risco a capacidade
global de produção de alimentos.
Para
se ter ideia, segundo a Organização das Nações Unidas, os serviços de
polinização prestados por esses insetos no mundo – seja no ecossistema ou nos
sistemas agrícolas -- são avaliados em US$ 54 bilhões por ano. Além disso, 73%
das espécies vegetais cultivadas no mundo são polinizadas por alguma espécie de
abelha.
Somente
na Austrália, local dos testes, cerca de 17% de todo o alimento plantado no
país, como as frutas, nascem graças à polinização feita tanto por abelhas
domesticadas, quanto por espécies selvagens.
Sensor
não atrapalha vôo
Para
implantar o sensor nos insetos, os pesquisadores adormecem as abelhas ao
colocá-las na geladeira a uma temperatura de 5ºC. Depois, usam uma supercola
para fixar o microssensor. De acordo com Souza, o miniequipamento não atrapalha
o voo.
Os
testes na Tasmânia são feitos com quatro colmeias. Duas vivem no ambiente
natural da região, que é considerada uma das menos impactadas pela poluição do
ar e da água.
Elas
estão a um quilômetro de distância de outras duas colmeias, que recebem
constantemente pequenas doses de agrotóxicos neonicotinoides no alimento (que
tem origem na molécula de nicotina).
Esses
defensivos agrícolas já foram banidos em alguns países por suspeita de
intoxicar as abelhas, em um fenômeno chamado de “distúrbio do colapso das
colônias”, quando os insetos não retornam às colmeias e morrem após o corpo
sofrer um “curto-circuito” possivelmente devido à excessiva exposição a
determinados compostos químicos.
De
acordo com Souza, os primeiros resultados do teste mostraram que as abelhas com
sensores que tiveram contato com os defensivos demoravam mais para voltar à
colmeia – ou nem voltavam. “Os neonicotinoides alteraram o comportamento
delas”, disse Souza.
A
meta do brasileiro, que lidera uma equipe com outros 13 profissionais, é
desenvolver um sensor de 1,5 milímetro até o fim deste ano. Em quatro anos, o
tamanho atual deve diminuir em 20 vezes, de forma que será implantado na abelha
com a ajuda de um spray.
Ainda
no segundo semestre deste ano, a investigação atravessa o oceano e troca de
continente. As abelhas do Brasil serão o alvo da pesquisa, principalmente as
que vivem na Amazônia.
De
acordo com Souza, o estudo será feito em parceria com o Instituto Tecnológico
Vale, braço da mineradora Vale que é voltado ao desenvolvimento sustentável.
Serão
implantados entre 10 mil e 20 mil sensores nos insetos para saber se há algum
tipo de impacto negativo que influencie a polinização das abelhas.
Fonte-pbagora