A
nanotecnologia avança a passos largos e grandes empresas já estão de olho em
inovações que saem das universidades. O químico Fernando Cotting, da USP, criou
um revestimento inteligente feito com microcápsulas capazes de inibir a
corrosão de metais quando colocadas em tintas. Sua pesquisa chamou tanta
atenção que ganhou o Prêmio Petrobrás de Tecnologia.
O
composto dessas microcápsulas de poliestireno tem cério (elemento metálico) e
silanol, substância derivada do silício. A união desses componentes permite que
o revestimento das estruturas metálicas adquira características de
autorreparação. Uma das principais aplicações do inibidor é na proteção de
dutos e tanques de armazenamento de petróleo.
As
microcápsulas podem ser adicionadas à tinta durante sua fabricação ou serem
misturadas antes da pintura. Quando a superfície metálica sofre algum tipo de
impacto, as microcápsulas se rompem e a substância inibidora entra em ação.
Inibidores
de corrosão já existem. Mas, muitas vezes, não são compatíveis com as tintas, o
que prejudica seu desempenho e pode até estragar sua formulação. “A tecnologia
mais usada hoje no Brasil coloca inibidores de corrosão diretamente na fórmula
da tinta. O problema é que muitos desses inibidores reagem com os componentes
da tinta”, afirma em entrevista a professora Idalina Vieira Aoki, Escola
Politécnica (Poli), que orientou a pesquisa.
“Vi
a necessidade de aumentar a vida útil das tintas, que por conta de falhas
durante a sua aplicação ou até mesmo por conta de algum dano mecânico, como o
impacto, levava ao início do processo de corrosão sobre o metal pintado”,
afirma Cotting.
O
encapsulamento é o grande diferencial da técnica de Cotting. Uma vez
encapsulado, o inibidor de corrosão não entra em contato direto com a tinta,
podendo ser incorporado na formulação sem grandes problemas. “A cápsula protege
o composto de interagir com a tinta e abre apenas quando houver o defeito, a
necessidade de combater a corrosão”, diz Idalina.
A
eficiência não é a única vantagem das microcápsulas. “A vantagem destes
compostos é que agem em sinergia e há uma concentração menor de cério, pouco
abundante na natureza. Isso pode reduzir os custos de fabricação sem afetar a
eficiência do produto”, diz Cotting.
O
objetivo, agora, é desenvolver uma tinta que se autorrepare. “Isso significa
que não apenas diminuirá a velocidade de corrosão, como é o caso do inibidor,
mas cessará por completo o processo corrosivo sobre o metal, reconstituindo a
camada de tinta”, afirma Cotting.
O
método de encapsulamento abre um mundo de possibilidades de uso. Pode ser útil
em tinta e resina epóxi, em algumas tintas de uso industrial e até na indústria
automotiva, segundo Idalina. “Muitas empresas nos procuraram com o objetivo de
investir neste projeto. No momento, estamos passando o processo para a escala
industrial e acreditamos que dentro de oito meses o produto já esteja disponível
no mercado”, diz Cotting.