A
presidente afastada, Dilma Rousseff, apresentou pessoalmente nesta
segunda-feira, 29, sua defesa no processo de impeachment no Senado. Para
afastá-la definitivamente da presidência, é preciso que 54 dos 81 senadores
votem a favor do seu afastamento definitivo, algo que a própria presidente, em
seu discurso, reconheceu que está “a um passo da consumação”. O ex-presidente
Lula e o compositor Chico Buarque acompanharam no plenário o que foi, sem
dúvida, um dos melhores discursos feitos por Dilma em sua carreira política.
Uma
das estratégias mais marcantes da presidente afastada em seu pronunciamento foi
a tentativa de igualar o atual processo de impeachment ao julgamento que
enfrentou durante a ditadura. Dilma fez questão de lembrar a foto icônica em
que aparece, aos 22 anos, encarando seus julgadores da ditadura e de comparar
sua atual postura de resistência diante do impeachment àquele momento de sua
vida.
“Resisti
à tempestade de terror que começava a me engolir na escuridão dos tempos
amargos em que o país vivia”, disse. “Diante das acusações que contra mim são
dirigidas neste processo, não posso deixar de sentir o gosto amargo da
injustiça”.
Em
outro momento do discurso, Dilma disse: “Este é o segundo julgamento a que sou
submetida em que a democracia tem assento junto comigo no banco dos réus.
Naquela época, carregando as marcas dolorosas da tortura, fui retratada
enquanto encarava meus julgadores” (…) Continuo de cabeça erguida, olhando nos
olhos dos meus julgadores. Apesar das diferenças, sofro de novo com o sentimento
de injustiça e o temor de que mais uma vez a democracia seja condenada comigo”.
Ainda,
mais adiante, ela disse: “Sei que em breve e mais uma vez na vida serei julgada
e é por ter a consciência tranquila sobre o que fiz no exercício da presidência
que venho pessoalmente na presença dos que me julgarão para olhar nos olhos de
vossas excelências para dizer que não cometi nenhum crime de responsabilidade
ou dos quais sou acusada injusta e arbitrariamente”.
Em
um dos momentos mais poéticos do discurso, Dilma fez alusão a uma das palavras
de ordem dos protestos que tomaram o país em junho de 2013, a ideia de que o
“gigante acordou”, ao afirmar que pretende “resistir, resistir sempre, para
acordar as consciências ainda adormecidas, mesmo que o chão trema e ameace
novamente nos engolir”.
Ela
voltou a atribuir a abertura do processo de impeachment a uma chantagem ilícita
do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha e, no intuito de fazer um contraponto
às denúncias por ele enfrentadas, voltou a afirmar que nunca enriqueceu ou
desviou recursos em benefício próprio e que não tem contas no exterior.
Dilma
também comparou seu afastamento à perseguição sofrida pelo ex-presidente
Getúlio Vargas, que o levou ao suicídio em 1954, e à tentativa de golpe
parlamentar sofrida por João Goulart, deposto pela ditadura em 1964. “Mais uma
vez, ao sermos feridos nas urnas pela elite econômica, nos vemos diante do
risco de uma ruptura democrática”, disse, acrescentando que as acusações contra
ela são “pretextos para viabilizar um golpe na Constituição”.
Não
faltou, também, declarações alarmistas no discurso da presidente afastada. Ela
disse que o que está em jogo é o “equilíbrio fiscal” e que o resultado do
impeachment será “mais pobreza”, “mais mortalidade infantil”, a “decadência dos
pequenos municípios”, a “previdência social” e as “riquezas minerais”. Além
disso, Dilma disse que o governo interino vai “congelar despesas com saúde,
educação e saneamento” e “impedir que mais crianças e adolescentes tenham
acesso à escola”.
“Estamos
a um passo da consumação de uma grave ruptura constitucional, um verdadeiro
golpe de estado”, finalizou.
Fonte-opiniao