segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Dilma vê a democracia no banco dos réus

A presidente afastada, Dilma Rousseff, apresentou pessoalmente nesta segunda-feira, 29, sua defesa no processo de impeachment no Senado. Para afastá-la definitivamente da presidência, é preciso que 54 dos 81 senadores votem a favor do seu afastamento definitivo, algo que a própria presidente, em seu discurso, reconheceu que está “a um passo da consumação”. O ex-presidente Lula e o compositor Chico Buarque acompanharam no plenário o que foi, sem dúvida, um dos melhores discursos feitos por Dilma em sua carreira política.
Uma das estratégias mais marcantes da presidente afastada em seu pronunciamento foi a tentativa de igualar o atual processo de impeachment ao julgamento que enfrentou durante a ditadura. Dilma fez questão de lembrar a foto icônica em que aparece, aos 22 anos, encarando seus julgadores da ditadura e de comparar sua atual postura de resistência diante do impeachment àquele momento de sua vida.
“Resisti à tempestade de terror que começava a me engolir na escuridão dos tempos amargos em que o país vivia”, disse. “Diante das acusações que contra mim são dirigidas neste processo, não posso deixar de sentir o gosto amargo da injustiça”.
Em outro momento do discurso, Dilma disse: “Este é o segundo julgamento a que sou submetida em que a democracia tem assento junto comigo no banco dos réus. Naquela época, carregando as marcas dolorosas da tortura, fui retratada enquanto encarava meus julgadores” (…) Continuo de cabeça erguida, olhando nos olhos dos meus julgadores. Apesar das diferenças, sofro de novo com o sentimento de injustiça e o temor de que mais uma vez a democracia seja condenada comigo”.
Ainda, mais adiante, ela disse: “Sei que em breve e mais uma vez na vida serei julgada e é por ter a consciência tranquila sobre o que fiz no exercício da presidência que venho pessoalmente na presença dos que me julgarão para olhar nos olhos de vossas excelências para dizer que não cometi nenhum crime de responsabilidade ou dos quais sou acusada injusta e arbitrariamente”.
Em um dos momentos mais poéticos do discurso, Dilma fez alusão a uma das palavras de ordem dos protestos que tomaram o país em junho de 2013, a ideia de que o “gigante acordou”, ao afirmar que pretende “resistir, resistir sempre, para acordar as consciências ainda adormecidas, mesmo que o chão trema e ameace novamente nos engolir”.
Ela voltou a atribuir a abertura do processo de impeachment a uma chantagem ilícita do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha e, no intuito de fazer um contraponto às denúncias por ele enfrentadas, voltou a afirmar que nunca enriqueceu ou desviou recursos em benefício próprio e que não tem contas no exterior.
Dilma também comparou seu afastamento à perseguição sofrida pelo ex-presidente Getúlio Vargas, que o levou ao suicídio em 1954, e à tentativa de golpe parlamentar sofrida por João Goulart, deposto pela ditadura em 1964. “Mais uma vez, ao sermos feridos nas urnas pela elite econômica, nos vemos diante do risco de uma ruptura democrática”, disse, acrescentando que as acusações contra ela são “pretextos para viabilizar um golpe na Constituição”.
Não faltou, também, declarações alarmistas no discurso da presidente afastada. Ela disse que o que está em jogo é o “equilíbrio fiscal” e que o resultado do impeachment será “mais pobreza”, “mais mortalidade infantil”, a “decadência dos pequenos municípios”, a “previdência social” e as “riquezas minerais”. Além disso, Dilma disse que o governo interino vai “congelar despesas com saúde, educação e saneamento” e “impedir que mais crianças e adolescentes tenham acesso à escola”.
“Estamos a um passo da consumação de uma grave ruptura constitucional, um verdadeiro golpe de estado”, finalizou.

Fonte-opiniao

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