Você
talvez já saiba que o câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens
no Brasil. Só perde para o câncer de pele. E, nesse mês, uma campanha chama
atenção pra importância de fazer todo ano os exames que ajudam a detectar a
doença. Mas essa recomendação não é consenso entre os médicos. O INCA e o Ministério
da Saúde dizem que pra homens saudáveis, os exames podem trazer mais danos
do que benefícios.
A
campanha Novembro Azul defende a importância dos exames de rotina para todos os
homens com mais de 50 anos. E a partir de 45 anos, para homens negros ou que
tenham casos da doença na família.
"Por
ano, são diagnosticados 69 mil novos casos de câncer de próstata", a
campanha afirma.
A
próstata é uma glândula exclusiva dos homens, que fica embaixo da bexiga.
Produz o sêmen, liberado no ato sexual.
Seu
Isaías aprendeu a lição:
“Por
enquanto, eu prefiro me prevenir. É melhor do que remediar”, diz Seu Isaías.
O
exame de sangue, chamado PSA, e o toque retal, podem indicar alterações na
próstata.
“De
dez casos diagnosticados com câncer de próstata, em oito deles o PSA levantou a
suspeita para fazer o diagnóstico. Mas em dois deles, o PSA é normal e o toque
retal é alterado – e aí, graças ao toque retal alterado, foi feito a suspeita e
a biópsia, que confirmou o resultado”, conta Fernando Maluf, consultor
científico do Instituto Lado a Lado pela Vida.
Só que o uso desses exames de forma generalizada divide opiniões de médicos no
Brasil, e lá fora também. O Instituto Nacional de Câncer e o Ministério da
Saúde afirmam que, se você é um homem saudável sem sintomas da doença, como
dificuldades para urinar, não precisa fazer os exames. Mas se achar necessário,
procure antes com um médico para entender os riscos que eles representam.
O
epidemiologista Arn Migowski, do INCA, diz que, na grande maioria dos casos, os
homens têm tipos não agressivos do câncer. E poderiam conviver com a doença. Só
que depois de diagnosticados, eles preferem fazer o tratamento.
“Você
diagnostica cânceres que não iriam evoluir clinicamente, que a pessoa nunca
sentiria nenhum sintoma, não ameaçaria a vida dela e você fazendo exame de
rotina você detecta aquele câncer, que não iria evoluir, e acaba tratando
aquele câncer”, afirma Arn Migowski.
E o
tratamento tem sérias consequências. Ansiedade, incontinência urinária e
impotência sexual, que atinge mais da metade dos homens que tiram a próstata.
A
maior pesquisa sobre o assunto, feita na Europa, acompanhou mil homens durante
13 anos. Metade fez exames de rotina. A outra não. Por causa dos exames, 178
passaram por uma biópsia sem necessidade. Quatro deles foram hospitalizados com
infecção e outras complicações.
Outros
102 foram diagnosticados com câncer de próstata. Desses, 33 tinham tumores sem
maior gravidade e acabaram sofrendo as consequências do tratamento: o grupo que
fez exames de rotina registrou cinco mortes. O que deixou de fazer teve seis.
Com
base nesse estudo, Estados Unidos, Canadá e todos os países da Europa, exceto a
Lituânia, não recomendam que homens saudáveis participem de campanhas para
detectar o câncer de próstata.
O
doutor Franz, que já operou centenas de pacientes, explica que infelizmente os
exames não conseguem mostrar a diferença entre um câncer agressivo e um
problema sem gravidade.
“PSA
é uma das poucas ferramentas que nós temos para o câncer de próstata, não deve
ser trazido para o rastreamento geral da população, que vai criar muito mais
alarde e tratamentos desnecessários. Mas deve sim ser usado em todo o momento
com o médico para analisar caso a caso”, defende Franz Campos, chefe do serviço
de Urologia do INCA.
A
Sociedade Brasileira de Urologia contesta os resultados da pesquisa. E diz que
exames de rotina podem, sim, salvar vidas.
“Existe
risco? Existe risco. Mas os benefícios são muito maiores. Existem homens que
precisam ser tratados do câncer de próstata, porque se não vão morrer da
doença. E a única forma de fazer o diagnóstico desse homem é uma avaliação
precoce da doença”, afirma Lucas Nogueira, diretor Sociedade Brasileira de
Urologia.
A
Sociedade Brasileira de Medicina da Família diz que os pacientes precisam de
mais informação.
“Muitas
vezes se oculta à parte do risco, e só se divulga a parte do benefício. As pessoas
têm que entender que a maioria das decisões médicas tem riscos e benefícios e
nós profissionais da saúde temos que, cada vez mais, ajudar as pessoas a tomar
as suas próprias decisões”, diz Gustavo Gusso, presidente da Sociedade
Brasileira de Medicina da Família e Comunidade.
Os
especialistas concordam em dois pontos: você precisa conversar com seu médico
antes de tomar qualquer decisão, e a melhor prevenção contra o câncer de
próstata é ter uma alimentação saudável, praticar exercícios físicos e não fumar.
Fonte-globo