O vídeo mostrando o assassinato de um jornalista
americano pelos jihadistas é o último episódio da guerra lançada pelos
extremistas nas redes sociais para espalhar o terror, mas também atrair novos
recrutas.
No passado, grupos jihadistas utilizaram seus
próprios meios de comunicação para divulgar mensagens e vídeos, mas,
recentemente, plataformas como o Twitter e o YouTube, permitiram aos
extremistas alcançar uma audiência sem precedentes.
Apesar de suas contas serem frequentemente
bloqueadas, eles rapidamente criam novas sob diferentes nomes.
O vídeo que mostra o assassinato brutal do
jornalista James Foley por um jihadista do Estado Islâmico (EI) foi divulgado
terça-feira à noite no YouTube.
A Casa Branca confirmou nesta quarta-feira a
autenticidade do vídeo da execução de Foley, que trabalhava para o site de
informações GlobalPost.
A gravação traz a marca registrada dos vídeos
jihadistas, com Foley vestido com um uniforme laranja, semelhante aos
utilizados pelos detentos islâmicos na prisão americana de Guantánamo.
Mas, ao contrário das terríveis imagens das
execuções cometidas pelos jihadistas durante a guerra do Iraque (2003-2011) e
da de Daniel Pearl em 2002 no Paquistão, este vídeo foi amplamente visto na
internet.
O YouTube o retirou rapidamente de circulação, mas
as imagens já haviam sido reproduzidas em outros sites e os screenshots
circulam nas contas jihadistas e de seus simpatizantes.
Estes utilizaram o Twitter para transmitir essas
imagens e, como justificativa, postaram ao mesmo tempo imagens de atos de
humilhação e tortura cometidos por soldados americanos na prisão iraquiana de
Abu Ghraib.
James Foley, de 40 anos, cobriu a guerra na Líbia,
antes de viajar para a Síria, onde trabalhou como freelancer para o GlobalPost,
Agence France-Presse e outros meios de comunicação.
Mas na internet, os jihadistas o acusaram de ser um
espião ou afirmaram que merecia morrer simplesmente por ser um americano
não-muçulmano.
“A execução do jornalista americano pelo EI é uma
estratégia deliberada. Ao mostrar a brutalidade de que é capaz, o EI quer
assustar seus inimigos”, tuitou Abu Bakr al-Janabi, que se apresenta como um
“extremista”. “A intenção é causar medo, terror e ódio”, escreveu ele em
inglês.
Sob a hashtag #AmessageToAmerica, ‘KhalifaMedia’
afirma que o “EI não deixará vivo nenhum cidadão americano que não seja
muçulmano no mundo árabe por causa dos ataques (do presidente Barack) Obama.”
Quando os ataques aéreos americanos contra posições
do EI começaram no dia 8 de agosto, centenas de contas do Twitter postaram
imagens destinadas a ameaçar os americanos com a hashtag #AMessageFromISSItoUS
(Uma mensagem do EI aos Estados Unidos).
Os tuítes eram acompanhados de fotos de soldados
americanos chorando, fotos do 11 de Setembro e as terríveis imagens de
cadáveres e de corpos desmembrados.
Os jihadistas chegaram a utilizar hashtags como
#Ferguson para aproveitar as notícias de maior importância relacionadas aos
Estados Unidos.
“O terrorismo é, por definição, uma estratégia de
comunicação”, afirma Max Abrahms, professor de Ciência Política na Northeastern
University (EUA).
Segundo ele, o uso que o EI faz das redes sociais
supera o da Al-Qaeda.
Ele ressalta que os recrutas do EI são muitas vezes
jovens que receberam uma educação ocidental. “Esses ocidentais têm a vantagem
de estarem expostos às redes sociais e seu domínio de inglês ajuda muito”, diz.
Para o EI, nascido das cinzas de um grupo iraquiano
afiliado à Al-Qaeda, a publicação de imagens chocantes na rede tornou-se uma
“demonstração de força” e uma forma de atrair mais recrutas, segundo Abrahms.
“Enquanto a maioria das pessoas no mundo fica
consternada, isso atrai elementos radicalizados da sociedade”, diz o analista.
Depois da divulgação do vídeo, o CEO do Twitter,
Dick Costolo, anunciou que a empresa ia suspender as contas que postassem
imagens chocantes do vídeo.
O YouTube também removeu o vídeo por violar seus
termos de uso, embora ele permaneça on-line em outros sites.
Os próprios usuários do Twitter tentam impedir a
disseminação das imagens usando a hashtag #ISISmediablackout (blackout
midiático contra o EI) para instruir os usuários a evitar a publicidade para o
grupo.
“Eu não vou compartilhar qualquer foto ou vídeo de
violência gravado intencionalmente e publicado pelo EI para propaganda”,
escreveu uma pessoa sob o pseudônimo de Libya Liberty.
Mas nesta quarta-feira à tarde, várias contas
tinham voltado com outros pseudônimos. “Esses terroristas continuam voltando”,
disse um usuário do Twitter.