Pode ser que o leitor – seja ele pai de aluno ou mesmo estudante –
tenha vivido esta situação nos últimos dias. Às vésperas do início do ano
letivo, ele terá despendido uma fortuna com material escolar e, ao mesmo tempo,
jogada na lata do lixo uma fábula em livros didáticos utilizados em 2013.
Isso acontece porque não existe no
país um programa sequer de reutilização do material didático – de escola
pública ou particular – de um ano para o outro, passado de aluno para aluno. Os
livros têm uma espécie de prazo de validade – que se esgota ao final do ano
letivo. Além disso, a indústria do material didático – com estreitas ligações
com o Governo – age no sentido de garantir a obsolescência de seus produtos de
ano para ano, faturando verdadeiras fortunas.
Uma das estratégias é a de incentivar
o aluno a fazer suas lições no próprio livro – em vez de usar o caderno para
este fim. As obras têm lacunas para serem preenchidas e quadros para serem
rabiscados e – portanto – inutilizados. Outro estratagema é o de alterar a cada
ano o número de páginas de cada obra – com folhas de rosto de mais ou de menos,
insignificantes alterações no conteúdo ou inúteis textos iniciais. O objetivo é
claro: criar certa confusão e desconforto dentro de sala de aula, caso algum
aluno “espertinho” queira furar o esquema do lucro fácil utilizando um livro já
rodado. É o “bullying” presumido – e por controle remoto.
O ex-ministro da Educação – e atual
ministro-chefe da Casa Civil – passou anos à frente da pasta e, apesar de
pertencer a um partido que já teve o trabalhador como inspiração, nada fez para
mudar essa triste e vergonhosa realidade. Aloizio Mercadante fez ouvidos de
mercador. Afinal, o livro didático é um tabu dentro do Governo que nada fará
para mudar se esse assunto permanecer – como está – fora da pauta.
Em países como o Canadá, por exemplo,
o livro não pertence ao aluno mas à sala de aula. Os estudantes são instruídos
a conservar seu material didático – sabendo que ele será utilizado por outro
colega no ano seguinte. O livro pode durar até mesmo mais de uma década. Assim,
todos ganham: os estudantes e o Governo – que pode destinar a verba para outras
iniciativas em Educação.
No Brasil, o livro didático é
encarado como um “business” – muito lucrativo, por sinal. Pais e estudantes
perdem a cada ano. Só a indústria do livro didático ganha. Esta é uma lição que
ainda não aprendemos.
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