Para sintetizar as pesquisas
recentes que antecipam um futuro de mistura racial, o biólogo Stephen Stearns,
da Universidade Yale, voltou-se para uma nação já miscigenada. Em alguns
séculos, afirma, todos “seremos como os brasileiros”. A cor no Brasil não é uma
variável binária, mas sim um espectro. Ainda assim, tal característica ainda é
um código para status social, renda e saúde. De modo que o governo do Brasil
está começando a implantar programas de cotas para acelerar as mudanças
justamente no momento em que os EUA os estão abandonando.
Ao longo da década passada várias
universidades públicas introduziram políticas de favorecimento racial
individualmente. Em abril deste ano o Supremo Tribunal Federal decidiu que elas
não contrariam disposições constitucionais de igualdades de direitos -– o que
era tudo o que o governo estava esperando. Em agosto foi aprovada uma lei que obriga
a reserva de cotas para todas as 59 universidades federais e 38 escolas
técnicas federais do país. Até 2016, metade de todas as vagas em instituições
federais será reservada para estudantes oriundos de escolas públicas. Dessas,
metade deve ser destinada a estudantes de família cujas rendas são menores que
R$ 1.017 reais por mês per capita – um corte que é muito maior que a média
brasileira.
Os oponentes das cotas se preocupam
que estudantes pouco preparados entrarão em cursos difíceis e depois terão
dificuldade para acompanhar o programa. Surpreendentemente, no entanto, nem a
Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) nem a UNB – as duas primeiras a
adotarem as cotas – verificaram que os cotistas tiveram um desempenho muito
pior que seus colegas. Uma explicação possível é que cotistas com certa nota de
entrada de fato eram mais aptos que não cotistas, uma vez que esses tinham mais
probabilidade de terem recebido treinamento intensivo em técnicas de
vestibular. Outra é que os cotistas se esforçaram mais: ambas as universidades
constataram que eles faltaram menos a aulas e tinham uma probabilidade menor de
abandonar o curso.
As cotas brasileiras diferem das
dos EUA na medida em que são destinadas especificamente e impedir que uma
pequena elite se aproprie de uma fatia extremamente desproporcional de vagas de
universidades financiadas por todos os contribuintes. Negros oriundos de
escolas privadas (isto é, com um nível de renda mais alto) não são beneficiados
pelas cotas. Mas como as cotas raciais só estão começando no Brasil, ainda é
cedo para dizer quais serão os efeitos e se eles terão um efeito positivo ou
negativo sobre as relações raciais.
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