segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Roedores subterrâneos sem olhos podem mostrar aos cientistas uma nova maneira de vencer o câncer.


Ratos-toupeira cegos vivem um bom tempo e não contraem o câncer. Biólogos acreditavam que os animais conseguiam evitar a doença pela mesma estratégia adotada pelos ratos-toupeira pelados, outra espécie subterrânea que tem longa vida. Nesses animais, uma espécie de gatilho é ativado para matar células que começam a se multiplicar desordenadamente, como ocorre no nascimento de um tumor. Ou seja, as células cancerígenas dos ratos-toupeira pelados se autodestroem na presença de um câncer.

Mas os ratos-toupeira cegos têm outro modo de combater os tumores, que decorre de uma adaptação à vida subterrânea na qual o oxigênio é escasso, anunciaram pesquisadores de Nova York e Israel na revista especializada Proceedings of the National Academy of Sciences. De acordo com Steven Austad, do Centro de Saúde e Ciência da Universidade do Texas, em San Antonio, a forma distinta como os ratos-toupeira cegos evitam o câncer é surpreendente. “Isto é como encontrar duas agulhas em um palheiro”, declarou ele.

Mutação explica sobrevivência

Os ratos-toupeira cegos deveriam ser menos resistentes ao câncer, uma vez que suas células não podem se autodestruir através de um processo celular chamado apoptose, comumente usado pelo organismo para eliminar células nocivas, inclusive cancerígenas. Condições de baixo oxigênio, como aquelas em que ratos-toupeira cegos fazem seus ninhos, geralmente levam as células a se autodestruírem através da apoptose. Para se manterem vivos nessas condições, os roedores tiveram que evoluir realizando uma mutação em uma proteína de combate ao câncer denominada p53. Essa mudança impede que as células sofram apoptose em condições de baixo oxigênio. Pacientes humanos com câncer apresentam mutações semelhantes, que impedem que as células de tumores cancerígenos sejam eliminadas.

Mas as células cancerígenas desses ratos encontraram uma maneira de ‘se desligar’. Vera Gorbunova, da Universidade de Rochester, em Nova York, e sua equipe descobriram que, nos animais, as células de tumores cultivadas em laboratório morrem depois de três dias. As células liberam uma substância química chamada interferon-beta, geralmente usada pelo sistema imunológico para combater vírus. Neste caso, o químico causou nas células dos ratos uma morte súbita conhecida como necrose.

Os pesquisadores estão tentando descobrir o gatilho que determina a liberação do químico e como a necrose não afeta células saudáveis. “Essa investigação será importante porque a necrose é conhecida por causar inflamação, que pode também danificar tecidos”, declarou Austad. “Talvez os animais matam as células cancerígenas uma de cada vez, evitando a inflamação generalizada”, disse ele.

Austad revela que a adaptação à condição de baixo oxigênio pode ter levado ambas as espécies de ratos-toupeira, cego e pelado, a evitar o câncer. Mas o fato de que as duas espécies o fazem de formas distintas sinaliza que existem diversas maneiras para evitar o crescimento descontrolado de células cancerígenas, diz Austad.
Fonte - science

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