A
onda conservadora que se fez presente nas eleições municipais no Rio de Janeiro
e em São Paulo ganhou projeção com a recente vitória de Donald Trump sobre
Hillary Clinton na batalha para ocupar a Casa Branca e, ao que tudo indica,
pode se tornar uma tendência mundial.
Militar
reformado em seu sexto mandato como deputado federal, o polêmico Jair Bolsonaro
percebeu os novos ares e, poucas horas após a confirmação da vitória de Trump,
anunciou que é candidatíssimo à disputa pela presidência da República em 2018.
Pela
imprensa brasileira, Bolsonaro parabenizou Trump pela eleição – não se sabe se
o sucessor de Barack Obama recebeu a mensagem. Pouco importa, o deputado
federal mais votado do Rio de Janeiro deve ter identificado certas semelhanças
com o bilionário americano. Se não for pelo topete, que seja pelas declarações
polêmicas e retrógradas: “Gostem ou não gostem, eu sou candidato em 2018”,
avisou. Defensor da tortura como uma prática legítima, processado pelo Conselho
de Ética da Câmara por sua oposição aos homossexuais e autor da frase “prefiro
filho morto em acidente do que homossexual” ele chega a ser um admirador do
ex-apresentador do programa de TV “O Aprendiz”: “Vence aquele que lutou contra
‘tudo e todos’. Em 2018 será o Brasil no mesmo caminho”, disse otimista na
conta oficial no Twitter.
Bolsonaro
pode não ser um político brilhante, mas de bobo não tem nada e, antes que um
aventureiro lance mão, resolveu “surfar” ele mesmo a oportunidade. Depois que
líderes mundiais como Angela Merkel, François Hollande e Theresa May
demonstraram preocupação com o futuro habitante do Salão Oval, Bolsonaro forçou
uma barra e se ofereceu para comentar a favor de Trump – novamente como voz
dissonante em relação a discursos mais ponderados. “Não sei se o Trump sabe que
eu existo, mas torci pela eleição dele porque será melhor para o Brasil
negociar com ele no futuro”, avaliou.
O
dia da vitória do republicano norte-americano foi comemorado em dose dupla pelo
parlamentar brasileiro. Por onze votos, o Conselho de Ética da Câmara decidiu
que ele não quebrou o decoro ao dedicar seu voto a favor do impeachment de
Dilma Rousseff ao coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, notável torturador
durante o período da ditadura militar. Segundo o artigo 53 da Constituição,
deputados e senadores são “invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de
suas opiniões, palavras e votos”. Já em Nova York, Chicago e em Portland,
manifestantes foram às ruas protestar contra a postura sexista, racista e
anti-gay, não a de Bolsonaro, mas de Trump mesmo.
Autora
da ação de impeachment que destituiu a presidente Dilma Rousseff, a advogada
Janaina Paschoal acha que a eleição de Trump deveria abrandar a disputa entre
presidenciáveis no Brasil e os planos perenes de poder: “Melhor nossos
presidenciáveis trabalharem o presente”, escreveu. Que Bolsonaro não perca
Janaína de vista. E vice-versa.
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