“Cura”
não é uma palavra usada com frequência pelos oncologistas. Em geral, falam de
“remissão” da doença. Mas nos últimos cinco anos os tratamentos de pacientes
com câncer progrediram muito. Mais de 70 novos medicamentos foram lançados no
mercado e a descrição dos efeitos de alguns deles como algo revolucionário não
é uma hipérbole, pelos menos para os pacientes que tiveram a sorte de reagir
bem à sua ação.
O
diagnóstico de um melanoma em estágio avançado significava uma sentença de
morte. A expectativa de vida em média era de seis a nove meses. Mas os recentes
medicamentos imuno-oncológicos, que utilizam o sistema imunológico do corpo
para combater os tumores, são tão eficazes que, em cerca de um quinto dos
casos, alguns especialistas consideram que os pacientes foram curados.
Esse
tipo de notícia otimista está dando um novo vigor às pesquisas sobre o câncer.
Na conferência anual da American Society of Clinical Oncology (ASCO), realizada
de 3 a 7 de junho em Chicago, os médicos não só mostraram os novos medicamentos,
como também relataram a evolução do uso dos remédios existentes. Os
diagnósticos estão mais precisos, os métodos modernos examinam os pontos fracos
de cânceres em partes do corpo que as biópsias convencionais não conseguem
alcançar e detectam tumores em lugares antes impossíveis de localizar. Em
consequência, os médicos estão adotando a abordagem da medicina personalizada,
na qual os tratamentos são adaptados às características específicas dos
pacientes e dos tipos de câncer.
Hoje,
o câncer é visto menos como uma doença de determinados órgãos, e sim como uma
disfunção do mecanismo molecular causada pela mutação de genes específicos. Um
estudo apresentado na ASCO revelou que 29 dos 129 pacientes reagiram bem aos
medicamentos originalmente aprovados para uso em partes do corpo diferentes da
localização dos tumores desses pacientes. Além disso, os medicamentos que têm
como alvo o gene HER2 presente em alguns tipos agressivos de câncer de mama e
de estômago tiveram uma resposta positiva.
Esses
medicamentos impedem o crescimento de uma proteína produzida em excesso em
tumores HER2-positivo e reduz os tumores. Sete dos 20 pacientes com câncer
colorretal, três dos oito com câncer de bexiga e três dos seis com câncer de
via biliar reagiram bem a esses remédios.
O
tratamento personalizado de pacientes com câncer já é uma realidade. Com a
detecção de problemas em estágio inicial e o começo do tratamento logo em
seguida as chances de salvar vidas são muito maiores. Um conhecimento mais
profundo dos processos subjacentes do câncer ampliará o número de vidas que a
medicina quer salvar. Ainda há um longo caminho a percorrer. Mas aos poucos e
com uma lógica inexorável os tribunais de apelação da oncologia estão rasgando
as sentenças de morte de pacientes com câncer.
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