Em
entrevista ao programa Fantástico no último domingo, 29, o chefe de Polícia
Civil do Rio de Janeiro, Fernando Veloso, disse que a investigação do estupro
coletivo supostamente praticado por 33 homens contra uma adolescente de 16 anos
no Rio irá contrariar “o senso comum” da população sobre o caso. O resultado da
investigação se baseia no exame de corpo de delito feito pela vítima quatro
dias após o crime e a perícia de um vídeo postado nas redes sociais.
“Não
há vestígios de sangue nenhum que se possa perceber pelas imagens que foram
registradas. Eles [os peritos] já estão antecipando, alinhando algumas
conclusões quanto ao emprego de violência, quanto à coleta de espermatozoides,
quanto às práticas sexuais que possam ter sido praticadas com ela ou não. Então,
o laudo vai trazer algumas respostas que, de certa forma, vão contrariar o
senso comum que vem sendo formado por pessoas que sequer assistiram ao vídeo”.
Durante
uma conversa em um grupo de WhatsApp, enviada ao jornal Extra, o delegado
Alessandro Thiers, afastado do caso no domingo, desqualificou a adolescente que
denunciou o estupro, chegando a afirmar que não houve estupro: Ele comentou a
entrevista da jovem ao Fantástico: “No ‘Fantástico’ era outra pessoa. Sabe que
temos fortes indícios de que não existiu estupro”.
Tanto
a entrevista de Veloso como a conversa do delegado Thiers refletem uma atitude
compartilhada por muitos brasileiros em redes sociais: Em seu perfil no
Facebook, a vítima foi acusada de usar o caso para atrair atenção com sua
história. No último sábado, 28, ela decidiu apagar sua página, que exibia
comentários depreciativos, de homens e mulheres, criticando seu comportamento e
acusando-a de não ter sido estuprada.
Uma
semana após o crime, uma conta no Twitter foi criada com fotos de uma menina,
supostamente a vítima, segurando armas, sugerindo que ela andava com bandidos e
por isso teria assumido o risco de ser estuprada. Em apenas quatro horas a
conta atraiu mais de 280 seguidores.
Ao
Fantástico, a adolescente criticou o tratamento que recebeu na delegacia: “O
próprio delegado me culpou. Quando fui à delegacia, não me senti à vontade em
nenhum momento. Eu acho que é por isso que muitas mulheres não fazem denúncias
(…) Ele [o delegado] chegou dizendo “Me conta aí”, sem nem perguntar como eu
estava, se estava bem”.
Em
outra entrevista, ao programa Domingo Espetacular, da TV Record, ela
acrescentou: “Ficavam perguntando por que eu estava lá, se eu tinha
envolvimento, se já tinha feito sexo grupal”.
Nenhum
suspeito permanece detido por envolvimento no crime.
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