Ismael
Batista, advogado, fugiu da casa onde morava aos 8 anos, em Samambaia-DF, para
viver no Aeroporto Juscelino Kubitschek, em Brasília. Por quase um ano, ele
dormiu no bagageiro do terminal e conviveu com os funcionários como se fossem
da própria família. Uma dessas pessoas foi a atendente de uma locadora de
carros, cuja mãe o adotou e o ajudou a ser aprovado em concursos no Supremo
Tribunal Federal e no Ministério Público.
De
família pobre, Batista cresceu em um barraco de madeirite, montado sobre a
terra, com a mãe e os dois irmãos, em Ceilândia. O pai foi morto a tiros por
usuários de drogas da região.
Batista
também foi vítima de bala perdida, dentro da própria casa. Atingido de raspão,
por pouco não ficou tetraplégico.
Aos
33 anos, Ismael ainda não sabe explicar a motivação certa para ter abandonado a
família. “Talvez a junção disso tudo, de não gostar do lugar em que vivia, um
lugar muito pobre, em que tudo era ruim para uma família naquela situação. Pode
ser que isso tudo tenha dado um grande estalo. Mas não foi uma coisa
planejada”, diz.
Batista
diz que só começou a se dedicar aos estudos aos 19 anos, para passar no
primeiro concurso público. “Estudava 12 horas por dia – de 8h até meio-dia,
tirava duas horas para descansar. Voltava às 14h, via um pouco de televisão, jornal,
jantava. E às 20:00h estudava até meia-noite. Eram três turnos.”
Foi
então que se apaixonou pela profissão que seguiria. “Comecei a estudar direito
administrativo, constitucional. Não sabia nem o que era alínea, parágrafo.
Estudei oito meses e passei em um primeiro concurso para bancário no BRB, aos
22 anos”, diz. “Seis meses depois, fui chamado para técnico no STF.”
Algum
tempo depois, Batista foi aprovado para analista no Conselho Nacional do
Ministério Público e para outros três concursos públicos. Atualmente, ele
estuda para a segunda fase do concurso de delegado de Polícia Civil.
“Você
começa a passar, vai passando, e vai adquirindo aquele acúmulo de
conhecimento”, diz. “Não sou um cara muito inteligente, sou um cara esforçado.
Se eu precisar ler dez vezes, eu vou aprender igual a um gênio.”
O
advogado se define como um “aproveitador de oportunidades”. “A maior parte dos
meus amigos de Samambaia já morreu. Sempre fui muito esperto e ia acabar usando
essa esperteza para alguma coisa que talvez não fosse boa”, diz.
“É
uma antítese entre o malex do aeroporto e uma mesa de servidor do Supremo, que
já me fez chorar muito. É uma junção de bênção, que se chama de sorte, com
também aproveitamento de oportunidades.”
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