O
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) está desenvolvendo um
medicamento que vai diminuir a resistência dos pacientes ao tratamento da
leishmaniose cutânea, ao torná-lo menos invasivo e com menos efeitos colaterais.
O projeto do instituto foi apresentado durante a 11ª Semana Nacional de Ciência
e Tecnologia, que termina hoje (19) em Brasília.
Usando
a nanotecnologia, o Laboratório de Leishmaniose e Doença de Chagas do Inpa,
criou um creme para ser aplicado na lesão, que é 30 vezes mais potente que as
drogas utilizadas atualmente, indovenosas ou intramusculares. O projeto é
desenvolvido desde 2011 em parceria com universidades da Finlândia e da Itália.
“Estamos
nos baseando em drogas já conhecidas, mexemos em sua formulação e, até agora,
estamos tendo bons resultados com nossas nanopartículas, que estão em torno de
50 nanômetros. E, na parte química, estamos testando vários tipos de ligantes,
já aceitos pelo organismo, que favoreçam a penetração e a entrada de forma mais
fácil das partículas dentro da célula, para que possa atingir o parasita”,
explicou a bióloga Antônia Maria Ramos Franco, pesquisadora responsável pelo
laboratório do Inpa.
A
leishmaniose cutânea é uma doença infecciosa, não contagiosa, que provoca
úlceras na pele e mucosas. É transmitida ao homem pela picada das fêmeas
infectadas de insetos flebotomíneos. No Brasil, esses insetos podem ser
conhecidos por diferentes nomes de acordo com sua ocorrência geográfica, como
tatuquira, mosquito palha, asa dura, asa branca, cangalhinha, birigui e
anjinho, entre outros.
Desde
1909, a doença vem sendo registrada no país. Segundo o Ministério da Saúde, são
notificados cerca de 21 mil casos por ano. A Região Norte apresenta o maior
coeficiente, de 54,4 casos a cada 100 mil habitantes, seguida das regiões
Centro-Oeste (22,9 casos/10 mil habitantes) e Nordeste (14,2 casos/100 mil
habitantes).
“É
muito sofrido ver pessoas que saem do médico com caixas de ampolas para
aplicação. Como essa via de administração da droga é muito invasiva e as
pessoas precisam ir ao posto de saúde, o tratamento torna-se dolorido e
cansativo e muitos o largam no meio. E a doença continua. Então, a
possibilidade do uso tópico, oral, ou através de adesivo seria o ideal,
principalmente para as crianças”, ressaltou Antônia Maria.
O
laboratório do Inpa desenvolve várias linhas de pesquisa que vão desde o estudo
de distribuição geográfica, identificação à taxinomia (ciência que classifica
os seres vivos) de vetores, de perfil epidemiológico, de métodos de diagnósticos
e alternativas de medicamentos. Algumas dessas pesquisas já resultaram em
produtos e dependem agora do interesse da iniciativa privada para a
comercialização.
“Estamos
tentando fazer o melhor possível para ajudar o povo, a partir das nossas
observações e do convívio com esse problema social e de saúde pública. A forma
de administração de uma droga pode reduzir seus efeitos colaterais. E, se
conseguirmos um tratamento tópico baseado na nanotecnologia, será excelente, e
esse creme tem um potencial muito grande”, argumentou a pesquisadora do Inpa.
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