Meio século atrás, a pílula anticoncepcional oferecia
às mulheres a capacidade de separar o sexo da reprodução. Agora, um novo
medicamento para resgatar a libido feminina, que deverá ser submetido até
agosto para aprovação do Food and Drug Administration (órgão que regula
medicamentos nos EUA), promete abrir caminho para que as mulheres deem um
próximo passo, resgatando o desejo sexual.
“Viagra feminino” é a forma como esses medicamentos
costumam ser caracterizados, mas isso é um equívoco. O Viagra modifica as
artérias, provocando mudanças físicas que facilitam a ereção nos homens. A
droga feminina do desejo é outra coisa. Ela precisa ajustar regiões primitivas
do cérebro e influenciar a psique.
A busca pela droga feminina do desejo tornou-se uma
obsessão da indústria farmacêutica há mais de uma década, em grande parte
porque o lançamento do Viagra, em 1998, mostrou as somas gigantescas de
dinheiro que podem ser adquiridas com uma solução química rápida para a
disfunção sexual. Mas, enquanto o Viagra e seus concorrentes lidam com a
simples hidráulica da impotência, a complexidade psicológica da falta de libido
das mulheres, até agora, tem derrotado os gigantes da indústria.
Mas o Viagra também influencia o estado mental dos
pacientes. A mecânica do corpo e os mistérios da mente estão interligados. Dê a
um homem uma ereção e seus nervos sensíveis e sentimentos de maior poder e
controle irão alimentar sua libido. As mulheres, uma pesquisa mostrou, são
menos conscientes de excitação genital e, provavelmente por este motivo, substâncias como o Viagra não são suficientes
para levantar o desejo das mulheres. Metade do arsenal químico do medicamento
Lybrido emprega uma química semelhante ao Viagra, na esperança de que isso
possa ser eficaz em combinação com uma substância que se destina mais
diretamente a influenciar o cérebro.
O Lybrido funciona de forma um pouco diferente das
drogas que a precederam. Por um lado, a pílula contém duas substâncias ativas
com efeitos que se convergem. Cada droga mexe com a interação entre a
serotonina e a dopamina, dando mais ênfase à dopamina, responsável pela
sensação de prazer.
A droga tem um revestimento de testosterona com sabor
de hortelã que derrete na boca. Quando o exterior é dissolvido, a paciente
engole uma pílula com químicos que são liberados paulatinamente na corrente
sanguínea. No Lybrido, esta pílula
interior é um primo próximo do Viagra. A ideia é que a molécula semelhante ao
Viagra leva mais sangue para os órgãos genitais, e isso vai trabalhar em
conjunto com a testosterona. Juntos, eles irão “agitar a mente” feminina para
que esteja mais consciente de impulsos eróticos, aumentando a liberação da
dopamina no cérebro. O Lybrido utiliza um composto chamado buspirona em vez do
Viagra. A buspirona foi originalmente usada como um medicamento anti-ansiedade
e se tomado todos os dias pode elevar a serotonina — visto como o hormônio
responsável pelo auto-controle, entre outras funções — no cérebro. Mas se ela for ingerida no máximo a cada dois
dias, ela tem um efeito único e de curto prazo: a serotonina é suprimida apenas
durante algumas horas.
Resultados de estudos recentes mostram que o Lybrido
concede benefícios inequívocos ao desejo
– e nas taxas de orgasmo. Se tudo correr bem e o FDA aprovar a droga
para uma segunda e mais extensa bateria de testes, o medicamento pode chegar ao
mercado em 2016.
Nenhum comentário:
Postar um comentário