Cientistas finalmente encontraram uma resposta a um dos grandes mistérios sobre a mais mortal das bactérias, Staphylococcus aureus – por que ela ataca principalmente humanos, e não animais. E agora eles têm uma ideia de por que alguns humanos são especialmente suscetíveis a essa bactéria, que mata 100 mil norte-americanos por ano – muito mais que qualquer outro micróbio.
Num estudo divulgado na última quarta-feira, pesquisadores da Universidade Vanderbilt relatam que o estafilococo evoluiu para focar em regiões específicas da hemoglobina humana, de forma a estourar a molécula e se alimentar do ferro em seu interior. As pessoas resistentes ao estafilococo, eles suspeitam, podem ter leves variações genéticas que ajustam as regiões da hemoglobina buscadas pela bactéria, tornando-as impenetráveis ao ataque.
O estudo é parte de uma visão mais geral sobre genes e doenças. Com novas ferramentas para examinar em detalhes as leves variações genéticas, pesquisadores estão se perguntando por que algumas pessoas pegam certas doenças e outras não, e por que alguns morrem de doenças que outros simplesmente ignoram. Com o estafilococo, por exemplo, 30% da população carrega a bactéria em seus narizes, sem mostrar sinais de infecção.
Especialistas em estafilococos dizem que a descoberta, publicada na edição de 16 de dezembro de “Cell Host & Microbe”, responde muitas perguntas sobre a bactéria e indica novas direções para pesquisas.
“É um trabalho impressionante”, disse Frank DeLeo, chefe de patogênese bacteriana humana no Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas. “Isso está movendo toda a área para frente”.
O trabalho começou em 2002, quando Eric P. Skaar era estudante de pós-doutorado e fascinado pelo estafilococo.
“Essa bactéria é a pior ameaça à saúde pública”, afirmou ele. “Ela é a principal causa de infecções cardíacas e de pele, a principal causa de infecções em tecidos moles. É uma grande causa de pneumonia. É a causa número um das infecções hospitalares”.
A bactéria pode estabelecer residência em qualquer tecido do corpo, acrescentou ele.
O estafilococo, segundo ele, “é como se fosse um bicho sinistro”.
Porém, como todos os organismos, ele precisa de ferro, e Skaar imaginava como ele o obtinha. A resposta, conforme descobriu, é que a bactéria “estoura glóbulos vermelhos e agarra o ferro”.
Agora, como professor-associado na Vanderbilt, Skaar fez uma pergunta que ninguém jamais havia pensado em fazer: será que a bactéria gosta de algumas hemoglobinas mais do que outras?
Escala evolutiva
Ele criou estafilococos no laboratórios, dando-lhes sangue de diferentes animais, de ratos a babuínos a seres humanos. Eles definitivamente preferiam sangue humano, relatou Skaar no novo artigo, mas havia também uma clara tendência: quanto mais alto o animal estava na escala evolutiva, mais a bactéria gostava de seu sangue.
Então Skaar e seus colegas encontraram a proteína do estafilococo que se prende à hemoglobina, e descobriram que ela se agarra a segmentos da proteína sanguínea que existem especificamente em humanos.
Agora, como professor-associado na Vanderbilt, Skaar fez uma pergunta que ninguém jamais havia pensado em fazer: será que a bactéria gosta de algumas hemoglobinas mais do que outras?
Escala evolutiva
Ele criou estafilococos no laboratórios, dando-lhes sangue de diferentes animais, de ratos a babuínos a seres humanos. Eles definitivamente preferiam sangue humano, relatou Skaar no novo artigo, mas havia também uma clara tendência: quanto mais alto o animal estava na escala evolutiva, mais a bactéria gostava de seu sangue.
Então Skaar e seus colegas encontraram a proteína do estafilococo que se prende à hemoglobina, e descobriram que ela se agarra a segmentos da proteína sanguínea que existem especificamente em humanos.
Ela pode se prender a segmentos similares em hemoglobinas animais, mas com menos avidez.
Finalmente, os pesquisadores infectaram duas classes de ratos. Uma tinha ratos comuns de laboratório, com hemoglobina normal de ratos. A outra tinha hemoglobina metade humana e metade rato. A classe com hemoglobina de humanos e ratos teve 10 vezes mais bactérias crescendo em seus órgãos.
Isso explica por que é tão frustrante estudar infecções por estafilococos em ratos, disse Mark S. Smeltzer, da Universidade do Arkansas. Pesquisadores usam ratos, que são baratos e prontamente disponíveis, para estudar tratamentos e vacinas contra a bactéria. Mas sempre foi muito difícil infectá-los – os cientistas precisam injetar neles uma quantidade tão grande de bactéria que, segundo Smeltzer, “tudo acaba ficando irreal”.
Finalmente, os pesquisadores infectaram duas classes de ratos. Uma tinha ratos comuns de laboratório, com hemoglobina normal de ratos. A outra tinha hemoglobina metade humana e metade rato. A classe com hemoglobina de humanos e ratos teve 10 vezes mais bactérias crescendo em seus órgãos.
Isso explica por que é tão frustrante estudar infecções por estafilococos em ratos, disse Mark S. Smeltzer, da Universidade do Arkansas. Pesquisadores usam ratos, que são baratos e prontamente disponíveis, para estudar tratamentos e vacinas contra a bactéria. Mas sempre foi muito difícil infectá-los – os cientistas precisam injetar neles uma quantidade tão grande de bactéria que, segundo Smeltzer, “tudo acaba ficando irreal”.
A quantidade era imensamente maior do que o necessário para muitas, se não a maioria, das infecções em humanos, explicou ele. O novo estudo explicou por que, acrescentou ele, e sugeriu uma maneira de contornar o problema – usar ratos com hemoglobina humana.
Suscetibilidade
Suscetibilidade
Porém, para Skaar, o resultado também sugeriu uma resposta a uma das questões mais prementes sobre infecções por estafilococos em humanos: por que um terço da população tem a bactéria no nariz e não fica doente, enquanto para os outros, uma infecção por estafilococo pode ser fatal?
“Na minha opinião, essa é a pergunta mais importante sobre a biologia do S. aureus atualmente”, afirmou Skaar.
Seu trabalho, segundo ele, sugere a existência de fatores genéticos que determinam a suscetibilidade a infecções entre espécies. Existiriam também fatores genéticos que determinam a suscetibilidade dentro de uma espécie, a espécie humana?
Ele tem uma forma de descobrir. Existem pequenas diferenças genéticas bem caracterizadas em hemoglobinas em meio a diferentes pessoas. E o Centro de Medicina Vanderbilt possui um banco de genes com o DNA de milhares de seus pacientes. Skaar está usando esse banco para examinar os genes da hemoglobina de todos os pacientes que tiveram infecções por estafilococos, e compará-los às sequências de genes de pacientes que não foram infectados. Ele espera que, caso haja variações entre hemoglobinas humanas que determinem a suscetibilidade à bactéria, ele provavelmente as encontrará.
Sua esperança, disse ele, é que no futuro um paciente entre num hospital e, como parte de um pré-atendimento de rotina, os médicos determinem, pela hemoglobina da pessoa, se devem se preocupar com o estafilococo. Aqueles que fossem suscetíveis receberiam antibióticos intravenosos antes de procedimentos de risco, como cirurgias.
“Essa é a possibilidade mais instigante”, afirmou Skaar. “Simplesmente saber que você é mais suscetível seria de grande valor”.
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