De todo o corpo humano, o órgão mais intrigante é o cérebro. Inacessível, complexo, detentor da personalidade e centro do conhecimento, ele é uma máquina funcional formada por 86 bilhões de neurônios, que se comunicam entre si por meio de sinapses para fazer a engrenagem funcionar de forma perfeita. Como toda máquina, o cérebro necessita de ajustes para a execução das mais diversas atividades. Mas ao contrário delas, ele não está sujeito ao desgaste do tempo — tese adotada pela ciência anteriormente.
Uma série de pesquisas realizadas na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da Universidade de São Paulo (USP) sugere que o processo de envelhecimento não está, obrigatoriamente, associado à diminuição do número de neurônios. Pelo contrário: os trabalhos constataram que as células nervosas, em vez de se apagarem com o processo de envelhecimento, se multiplicam.
“Essta é a grande novidade e mudança de paradigma desse trabalho, ou seja, os neurônios são células que podem sim, se dividir, se multiplicar e se renovar. Nesse trabalho, encontramos neurônios se dividindo em animais idosos”, explica o professor Antonio Augusto Coppi, responsável pelo Laboratório de Estereologia Estocástica e Anatomia Química do Departamento de Cirurgia da FMVZ/USP.
Segundo Coppi, de 1954 a 1984, o uso de métodos de análise inadequados em diversas pesquisas nacionais e internacionais conduziu os cientistas a acreditar que, ao envelhecermos, nosso cérebro perdia células nervosas. “Com a publicação do método estereológico, em 1984, porém, os pesquisadores menos resistentes contestaram os resultados anteriores, iniciando o emprego da quantificação de neurônios por estereologia (3D).”
Por meio da estereologia, inclusive, o pesquisador percebeu o processo de divisão dos neurônios de diferentes tipos de animais em etapas da vida. “Trabalhamos com o sistema nervoso simpático de oito espécies de animais (desde o camundongo até o cavalo) e, em cada uma, estudamos quatro grupos etários — neonatos (três dias de vida), jovens (um mês), adultos (1 ano) e idosos (2 a 8 anos). A conclusão é de que somente na cobaia (camundongo) o número de neurônios diminuiu 21%. Nas outras espécies, ou permaneceu estável ou aumentou até 1.700% durante o envelhecimento”, explica.
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