terça-feira, 26 de outubro de 2010

Infecções podem proteger contra outros parasitas


A batalha de parasitas é muito mais complexa do que se imagina. Trata-se de uma verdadeira disputa campal e por recursos e a interação entre diferentes parasitas é determinante para o grau de infecção e a suscetibilidade ao ataque de outras doenças. Foi o que concluiu um grupo de pesquisadores que analisou por cinco anos a atuação de quatro tipos diferentes de parasitas. Os resultados, tomando amostras de sangue de cerca de 6.000 ratazanas selvagens, indicaram que as interações entre parasitas podem ter efeitos positivos e negativos para o hospedeiro.

O trabalho destacou que médicos e veterinários, ao estudar uma doença, devem levar em conta também as outras infecções que o indivíduo pode ter. “As interações entre parasitas no hospedeiro podem ser muito mais fortes e têm mais efeito sobre a suscetibilidade à infecção do que outros fatores comumente considerados em estudos de doenças como a idade do paciente e a estação do ano”, disse Sandra Telfer, do Instituto de Biologia e Ciências Ambientais da Universidade de Aberdeen (Escócia).

Interações

O estudo analisou 4 parasitas diferentes – vírus da varíola bovina, protozoário da Babesiose, a bactéria da Erliquiose e a bactéria Bartonella SP (que não afeta humanos) –, e mostrou que há grandes efeitos positivos e negativos de outras infecções na susceptibilidade.

Os pesquisadores descobriram que se um animal está infectado com o vírus da varíola bovina, ele tem maior probabilidade de se infectar com outros parasitas. Em contrapartida, tivemos também a evidência de inibição - se um animal está infectado com Babesia microti, o protozoário da Babesiose, é menos provável dele se infectar com Bartonella spp.

“Alguns parasitas, incluindo o vírus da varíola bovina, tentam manipular a resposta imune do hospedeiro, para que possam o infectar com êxito. Isso pode explicar por varíola bovina tende a aumentar a susceptibilidade a outros parasitas - porque o sistema imune do hospedeiro é temporariamente enfraquecido”, explica.

Os efeitos negativos entre Babesia microti e Bartonella spp. também podem ser explicada pelos seus efeitos no sistema imune do hospedeiro. “Neste caso, a infecção com uma espécie de parasita pode regular parte do sistema imunológico, por exemplo, as células que são responsáveis pelo ataque inicial de parasitas, o que torna difícil para o outro parasita obter sucesso ao infectar o hospedeiro”.

Outra alternativa, pode refletir os efeitos negativos da concorrência entre os parasitas para a alimentação dentro do hospedeiro. “Tanto Babesia e Bartonella infectam as células vermelhas do sangue, e assim, se um indivíduo já está infectado com Babesia, será difícil para a bactéria da Bartonella encontrar glóbulos vermelhos suficientes”, diz.

O estudo, que foi feito com ratos silvestres, tem também aplicações em humanos. “Assim como acontece com outras espécies animais, a maioria dos seres humanos é infectada com mais de uma espécie de parasita, simultânea ou sequencialmente. No entanto, a maioria dos estudos médicos considera apenas uma doença por vez”, disse

HIV

Entre os exemplos de aplicação do estudo está o vírus da AIDS, que de acordo com dados da Organização mundial da Saúde (OMS) 40,3 milhões de pessoas em todo o mundo são soropositivas - a grande maioria na África. O vírus da imunodeficiência humana (HIV) ataca o sistema imunológico do homem, responsável por defender o organismo de doenças. De acordo com estatísticas da Organização mundial de “Acredita-se que a alta prevalência de HIV na África pode estar dirigindo o aumento no número de casos de tuberculose no continente”, disse.

No entanto, estudos sobre a AIDS continuam tratando a doença isoladamente. “Se quisermos conhecer os riscos para um indivíduo ao contrair uma infecção, precisamos saber outros tipos de infecções ele tem, pois elas interagem”.

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