Funcionário público de Divinópolis, a 120 Km de Belo Horizonte (MG), Carlos Corgozinho, 38 anos, é exemplo de honestidade. Ao tentar sacar R$ 2 reais do caixa eletrônico, a máquina liberou R$ 5.732. Mesmo com muitas contas a pagar, ele devolveu o dinheiro ao banco. Para surpresa do trabalhador, a agência não aceitou a devolução, alegando que não havia detectado nenhum erro nas máquinas ou na câmera de segurança. Mais uma vez, foi preciso superar a tentação. Durante três dias, as notas ficaram escondidas no guarda-roupas da casa do gari até que, finalmente, a instituição financeira entrou em contato perguntando sobre o saque.
Corgozinho conta que precisava dos R$ 2 para comprar cigarro picado e foi à agência do Banco Real, onde recebe o salário, fazer o saque. Ele digitou o número errado e a máquina liberou R$ 20. Com o saldo de R$ 2,40, o servidor achou estranho a aprovação para retirada do dinheiro na conta e tentou sacar R$ 50. "Toda vez que eu digitavao número, a máquina liberava o dinheiro. Mudei de caixa para ver se era problema de uma máquina só, mas no outro o dinheiro também era liberado sem problemas."
Quando percebeu que tinha mais de R$ 5 mil nas mãos, Corgozinho ficou assustado. A quantia equivale a 12 meses de trabalho. Sem saber o que fazer, levou o dinheiro para casa e entregou ao pai, que as escondeu no fundo do guarda-roupas. Com medo de que o erro pudesse trazer problemas à família, o servidor pediu conselho ao diretor da Empresa Municipal de Obras Públicas, onde trabalha na área de serviços gerais. "Sempre fui honesto. Nem nas maiores dificuldades precisei pegar dinheiro que não seja meu."
Acompanhado do diretor Hebert Lourenço, Corgozinho foi à agência bancária e ao contar o que havia acontecido, a gerência verificou o sistema. Mas não detectou o erro e não pôde receber o valor. "Então, voltei para casa com o dinheiro", lembra. Durante três dias ninguém deu falta dos mais de R$ 5 mil. Até que, no fim da semana, ele recebeu uma ligação dobanco, explicando que funcionários haviam percebido algo errado nas contas da agência. "O dinheiro não era meu. Era um valor alto e eu sabia que alguém viria procurar. No dia que eles me ligaram, fui lá e devolvi", diz.
Corgozinho mora com os pais e o irmão mais velho no Bairro Porto Velho. A renda da família se resume à pensão da aposentadoria do pai e ao salário mínimo do servidor, que somam cerca de R$ 700. Contas atrasadas e a pensão de R$ 140 que ele paga mensalmente ao filho de 9 anos consomem toda quantia que recebe da prefeitura. Mesmo assim, ele ensina: "Não há dinheiro que pague uma consciência intranquila. Espero estar passando uma boa lição de vida ao meu filho".
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