segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Ação humana contamina áreas intocadas do fundo do mar



Não muito longe das ilhas Guam está o ponto mais profundo da superfície da Terra, a fossa das Marianas. Sua profundidade é de 10.994 metros abaixo do nível do mar. Se o monte Everest ficasse em uma posição invertida, ainda assim haveria mais de 2 km de água entre a base da montanha e a superfície do oceano. Em razão dessa profundidade, muitos pesquisadores supunham que a fossa das Marianas e outras semelhantes do fundo do mar fossem os poucos lugares ainda preservados no mundo.
No entanto, um artigo de Alan Jamieson e de seus colegas da Universidade de Newcastle, no Reino Unido, publicado esta semana na revista científica Nature Ecology and Evolution, mostrou que as fossas oceânicas têm muitos elementos poluentes.
Apesar do frio, da escuridão e da alta pressão, as fossas oceânicas são o hábitat de ecossistemas semelhantes em muitos aspectos aos encontrados em outras partes do planeta. Porém, na maioria dos ecossistemas da Terra, a luz solar alimenta o crescimento de plantas que são consumidas pelos animais. Em algumas partes mais rasas do oceano, os respiradouros hidrotermais fornecem substâncias químicas ricas em energia, que formam a base das cadeias alimentares locais.
Porém, não existem respiradouros abaixo de 5 mil metros e nenhuma luz solar penetra em uma fossa oceânica. Os organismos encontrados nesses locais escuros e profundos dependem, portanto, do material orgânico absorvido pela água.
 Como esses nutrientes ficam depositados nas fossas, Jamieson questionou o pressuposto que essas regiões profundas não tinham sido atingidas pela ação humana. Em sua opinião, os poluentes de longa duração, como os bifenilos policlorados (usados em equipamentos elétricos) e éteres difenílicos polibromados (utilizados como retardantes de chamas) poderiam ter penetrado nos organismos marinhos que vivem nesses locais.
Com o objetivo de testar essa ideia, Jamieson e seus colegas enviaram um módulo não tripulado para o fundo da fossa das Marianas e para a fossa de Kermadec, perto da Nova Zelândia. O módulo passou entre oito e 12 horas explorando o local e capturando anfípodes (um tipo de crustáceo, ver imagem) usando armadilhas de funil com cavalas como isca.
O módulo coletou espécimes de dez locais nas duas fossas. O local mais raso foi de 7.227 metros na fossa de Kermadec. O mais profundo estava a 10.250 metros na fossa das Marianas. A equipe constatou a presença de éteres difenílicos polibromados nos anfípodes capturados, mas em concentrações moderadas. Já os níveis de bifenilos policlorados estavam bem altos.
Em animais capturados em ambientes sem poluição, os níveis de bifenilos policlorados não excedem em geral a um nanograma, o equivalente a um bilionésimo de um grama, por grama de tecido. Em áreas extremamente poluídas, como o rio Liao na China, esse nível pode subir um pouco acima de 100 nanogramas. Na fossa das Marianas os anfípodes que viviam na profundidade de 10.250 metros tinham 495 nanogramas por grama da substância química poluente. Os encontrados a 8.942 metros tinham uma concentração de 800 nanogramas. A análise do tecido dos anfípodes capturados a 7.841 metros de profundidade mostrou uma concentração de 1.900 nanogramas por grama. O nível de poluição da fauna marinha da fossa de Kermadec apresentou uma variação de 50 nanogramas a 250 nanogramas por grama.
Os pesquisadores não descobriram o motivo da presença tão elevada de bifenilos policlorados na fossa das Marianas. Segundo Jamieson, é possível que seja resultado da proximidade da fossa com o Redemoinho Subtropical do Pacífico Norte, uma espiral de correntes criada por um sistema de alta pressão de centenas de quilômetros de extensão, que acumulou milhões de quilos de lixo ao longo dos anos, a maioria de plásticos.

Fonte-opiniao

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