Não muito longe das ilhas Guam está o ponto mais profundo da superfície da Terra, a fossa das Marianas. Sua profundidade é de 10.994 metros abaixo do nível do mar. Se o monte Everest ficasse em uma posição invertida, ainda assim haveria mais de 2 km de água entre a base da montanha e a superfície do oceano. Em razão dessa profundidade, muitos pesquisadores supunham que a fossa das Marianas e outras semelhantes do fundo do mar fossem os poucos lugares ainda preservados no mundo.
No
entanto, um artigo de Alan Jamieson e de seus colegas da Universidade de
Newcastle, no Reino Unido, publicado esta semana na revista científica Nature
Ecology and Evolution, mostrou que as fossas oceânicas têm muitos elementos
poluentes.
Apesar
do frio, da escuridão e da alta pressão, as fossas oceânicas são o hábitat de
ecossistemas semelhantes em muitos aspectos aos encontrados em outras partes do
planeta. Porém, na maioria dos ecossistemas da Terra, a luz solar alimenta o
crescimento de plantas que são consumidas pelos animais. Em algumas partes mais
rasas do oceano, os respiradouros hidrotermais fornecem substâncias químicas
ricas em energia, que formam a base das cadeias alimentares locais.
Porém,
não existem respiradouros abaixo de 5 mil metros e nenhuma luz solar penetra em
uma fossa oceânica. Os organismos encontrados nesses locais escuros e profundos
dependem, portanto, do material orgânico absorvido pela água.
Como esses nutrientes ficam depositados nas
fossas, Jamieson questionou o pressuposto que essas regiões profundas não
tinham sido atingidas pela ação humana. Em sua opinião, os poluentes de longa
duração, como os bifenilos policlorados (usados em equipamentos elétricos) e
éteres difenílicos polibromados (utilizados como retardantes de chamas)
poderiam ter penetrado nos organismos marinhos que vivem nesses locais.
Com
o objetivo de testar essa ideia, Jamieson e seus colegas enviaram um módulo não
tripulado para o fundo da fossa das Marianas e para a fossa de Kermadec, perto
da Nova Zelândia. O módulo passou entre oito e 12 horas explorando o local e
capturando anfípodes (um tipo de crustáceo, ver imagem) usando armadilhas de
funil com cavalas como isca.
O
módulo coletou espécimes de dez locais nas duas fossas. O local mais raso foi
de 7.227 metros na fossa de Kermadec. O mais profundo estava a 10.250 metros na
fossa das Marianas. A equipe constatou a presença de éteres difenílicos
polibromados nos anfípodes capturados, mas em concentrações moderadas. Já os
níveis de bifenilos policlorados estavam bem altos.
Em
animais capturados em ambientes sem poluição, os níveis de bifenilos
policlorados não excedem em geral a um nanograma, o equivalente a um
bilionésimo de um grama, por grama de tecido. Em áreas extremamente poluídas,
como o rio Liao na China, esse nível pode subir um pouco acima de 100
nanogramas. Na fossa das Marianas os anfípodes que viviam na profundidade de
10.250 metros tinham 495 nanogramas por grama da substância química poluente.
Os encontrados a 8.942 metros tinham uma concentração de 800 nanogramas. A
análise do tecido dos anfípodes capturados a 7.841 metros de profundidade
mostrou uma concentração de 1.900 nanogramas por grama. O nível de poluição da
fauna marinha da fossa de Kermadec apresentou uma variação de 50 nanogramas a
250 nanogramas por grama.
Os
pesquisadores não descobriram o motivo da presença tão elevada de bifenilos
policlorados na fossa das Marianas. Segundo Jamieson, é possível que seja
resultado da proximidade da fossa com o Redemoinho Subtropical do Pacífico
Norte, uma espiral de correntes criada por um sistema de alta pressão de
centenas de quilômetros de extensão, que acumulou milhões de quilos de lixo ao
longo dos anos, a maioria de plásticos.
Fonte-opiniao
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