O
governo iniciou nesta segunda-feira, 10/10/2016, uma ofensiva para aprovar a
PEC 241, que limita e congela por 20 anos os gastos públicos da União, estados
e municípios. A proposta é a mais drástica alteração no modelo de Estado
traçado pela Constituição de 1988 e vem dividindo opiniões entre parlamentares.
Para
o presidente Michel Temer e a base aliada do governo a aprovação da proposta é
essencial para restaurar a economia do país. Segundo eles, trata-se de um
“remédio amargo”, porém, necessário.
Temer
está empenhado na aprovação da proposta. Nesta segunda-feira, ele exonerou dois
ministros, Bruno Araújo (Cidades) e Fernando Coelho Filho (Minas e Energia),
para que eles possam retornar temporariamente à função de deputado e votar pela
aprovação da PEC.
Em
entrevista à rádio Estadão, o presidente afirmou que sequer pensa em um plano
B, pois não cogita a não aprovação da PEC. “Não pensamos em plano B, apenas
plano A. Vamos esperar o que vai acontecer na votação, mas é perfeitamente
possível aprová-la”.
Segundo
Temer, a PEC é uma alternativa para evitar aumento de impostos, como a
tentativa de Dilma Rousseff de resgatar a CPMF. “Não falamos mais disso. Vamos
tentar, por meio da PEC, contornar a situação, para não agravar mais os
tributos no país”.
O
mais recente esforço de Temer pela aprovação da PEC 241 ocorreu no último
domingo, 9, quando o presidente ofereceu um jantar a 215 deputados e senadores,
no Palácio da Alvorada. No jantar, Temer disse que o governo está cortando na
própria carne e que qualquer ação contrária à aprovação “não pode ser
admitida”.
Líderes
da base aliada de Temer alertaram aos membros de seus respectivos partidos que
haverá retaliações para quem não votar com o governo. As punições vão desde a
perda de cargos em órgãos federais até a não liberação de recursos para suas
bases.
A
proposta, no entanto, encontra forte rejeição de parlamentares e da sociedade.
Isso porque, caso entre em vigor, a PEC limita as despesas primárias da União
ao que foi gasto no ano anterior corrigido pela inflação. Para especialistas,
isso seria fatal para as áreas da saúde e da educação.
Segundo
eles, tais setores não podem ter o orçamento atrelado à inflação, pois costumam
crescer de acordo com a demanda social. A saúde, por exemplo, tem hoje direito
a uma porcentagem mínima e progressiva da Receita Corrente Líquida da União.
Atualmente, essa porcentagem está em 13,2% e deve chegar a 15% em 2020. Com a
PEC, os 15% seriam adiantados para 2017 e ficariam congelados neste percentual
por 20 anos.
“A
população pobre, que depende mais da seguridade social, da saúde, da educação,
vai ser prejudicada. A PEC é o plano de desmonte do gasto social. Vamos ter que
reduzir brutalmente os serviços sociais, o que vai jogar o Brasil numa
permanente desigualdade”, disse o professor de economia da Unicamp Pedro Rossi,
em entrevista à BBC.
Já
a professora da PUC-SP Cristina Helena de Mello alerta para o fato de que
gastos com saúde são imprevisíveis. “Você pode ter movimentos migratórios
intensos, aumento da violência e das emergências, aumento dos nascimentos. Vai
ter hospital superlotado, com dificuldade para atender”.
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