Dificilmente
alguém discordaria da ideia de que “beijo é bom”. Tão bom que, não bastasse ser
categorizado quanto aos “tipos” (“selinho”, “de esquimó”, “técnico”, “de
novela”…) e de frequentemente ser cada vez mais evidenciado nos refrões de
inúmeras músicas, já ganhou até dia próprio,12 de abril.
Popularmente,
porém, diz-se que “tudo que é bom é ilegal, imoral ou engorda”. Não que este
seja o caso do beijo, mas a verdade é que ele realmente pode transmitir algumas
doenças, de modo que são necessários alguns cuidados na sua prática, já que os
problemas podem ir desde um simples resfriado ao contágio da meningite, assim
como também se estendem a outros que muitas pessoas acreditam só serem
adquiridos sexualmente.
Segundo
os especialistas, ocorre que existem doenças que se valem da troca salivar como
um meio de contaminação, e, dada ser úmida e escura, a boca é o local propício
para que os organismos que a habitam se desenvolvam. Desta perspectiva, a
cavidade oral pode ser considerada uma “porta de entrada” para que nela se
instalem diferentes bactérias e vírus.
A
chamada “doença do beijo”, por exemplo, cientificamente denominada
“mononucleose”, é uma dessas doenças. Uma vez infectado pelo vírus Epstein-Baar
(EBV ou HHV-4), que permanece incubado no organismo de 30 a 45 dias, o
indivíduo terá essa enfermidade permanentemente, podendo repassá-la a outras
pessoas, tanto por meio do beijo quanto pelo compartilhamento de objetos
contaminados e também pela transfusão de sangue. Infelizmente, a maior parte
daqueles que a têm desconhece esse diagnóstico, pois, além de não deixarem
sequelas, os sintomas da mononucleose são muito similares aos da gripe e/ou aos
de outros males característicos principalmente do inverno, incluindo-se aí
febre persistente, tosse, perda de apetite, calafrios, indisposição, etc.
Para
que uma pessoa saiba se tem ou não a “doença do beijo” é preciso que sejam
realizados alguns exames laboratoriais. Como nas demais viroses, a terapêutica
se dá com a prescrição de antitérmicos, analgésicos, anti-inflamatórios e
repouso.
Quando
constatada a doença, é bastante comum que o paciente não se lembre de haver se
relacionado com alguém que possa tê-lo contagiado, mas, a partir de então, a
sua conscientização é absolutamente fundamental para que outros não continuem a
sê-lo, mesmo porque uma forma de se prevenir a transmissão encontra-se
justamente associada à relação com um(a) único(a) parceiro(a), posto que, neste
caso, quanto mais beijos com múltiplos “desconhecidos”, pior.
Outro
vírus transmitido pelo beijo, de modo muito recorrente, é o do herpes, cujos
sintomas são locais. Surgem lesões cutâneas em torno dos lábios, nas quais se
encontra um líquido claro ou amarelado, formando pequenas crostas que, quando
se rompem, podem causar coceira, ardor e formigamento, incômodos estes que
costumam durar uma semana. Assim como em relação à mononucleose, também não
existe cura para essa doença, que pode se manifestar anos mais tarde, em
ocasiões em que a imunidade da pessoa esteja baixa. E, quanto ao tratamento,
este se dá com a prescrição de antivirais.
De
acordo com um estudo empreendido por médicos australianos, a meningite
meningocócica (inflamação das meninges causada pela bactéria Neisseria
meningitidis, também conhecida como “meningococo”) é uma doença cujo potencial
de contágio pode ser aumentado em até 4 vezes para quem costuma beijar
múltiplos parceiros (e, aqui, estima-se que “múltiplos parceiros” correspondam
a uma média de 7 pessoas num prazo de duas semanas). Como se sabe, a meningite
provoca febre, dor de cabeça, vômitos, diarreia e rigidez em alguns músculos,
podendo causar danos neurológicos irreversíveis (como, por exemplo, a surdez) e
ser até mesmo fatal (se não diagnosticada precocemente), embora existam
medicamentos adequados para combatê-la e, ainda, a prevenção por meio de
vacinas.
Outra
que consta entre as principais doenças transmitidas pelo beijo é a sífilis.
Conforme já é do conhecimento comum, trata-se de uma doença sexualmente
transmissível, de modo que contraí-la por meio do beijo não é algo tão
frequente, conquanto possa ocorrer, desde que o indivíduo com sífilis tenha uma
ferida/lesão nos lábios ou na própria boca. Em relação aos seus sintomas, ela
provoca o surgimento de ferida indolor na gengiva, nos órgãos genitais e nas
palmas das mãos e dos pés, além de febre, dor de cabeça e pelo corpo, dor de
garganta, tosse e manchas avermelhadas, chegando até a alterar o sistema
nervoso central. No entanto, mesmo sem tratamento (feito à base de
antibióticos), todos eles podem desaparecer; porém, a bactéria Treponema
pallidum permanecerá no organismo, com a possibilidade de, quando não
combatida, provocar graves danos permanentes ao coração e ao sistema nervoso,
podendo até mesmo fatal.
Ainda
em relação ao tema das doenças cuja contaminação se dá por intermédio do beijo,
existem outras associadas, entre as quais estão a cárie, a gengivite, a
faringite, a laringite e a amigdalite (originadas por bactérias), bem como a
gripe (incluindo-se aí a H1N1 – “gripe suína” –, que, em comparação a 2009,
hoje está bem menos frequente, mas não erradicada), a tuberculose, a hepatite e
o HPV (causados por vírus).
Assim,
embora na maioria das vezes o beijo seja considerado “inofensivo”, é importante
estar atento às enfermidades que podem ser desencadeadas por esta ação tão
prazerosa, sobretudo quando não praticada exclusivamente com um(a) único(a)
parceiro(a), situação em que o risco de contaminação de bactérias e/ou vírus
transmitidos por meio da troca salivar é potencialmente aumentado.
Consultar-se
regularmente com o cirurgião-dentista também é uma medida fundamental não
apenas para a manutenção da saúde bucal (seguindo-se com a correta escovação
dos dentes, o uso diário do fio dental, a utilização de enxaguatórios bucais…),
mas, tendo em vista que tudo no nosso organismo se inter-relaciona, para a
preservação da nossa saúde em geral. E, nas proximidades do carnaval, quando
conjuntamente à comemoração descompromissada que caracteriza a folia costumam
surgir novos “hits” que incentivam o beijo, considerando a ideia de “quanto
mais, melhor”, o tema acerca das doenças por ele transmitidas precisa ser
levado adiante, esclarecendo especialmente os jovens, já que, da perspectiva da
saúde, prestigiar-se a respeito do número de pessoas com as quais se ficou/beijou
numa única noite ou num curto período de tempo pode se tornar uma conquista
bastante comprometedora, passada a comemoração inicial.
Fonte-luposeli
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