Precisamente às dez da manhã do dia
20 de janeiro do próximo ano, um pequeno chip eletrônico dentro da sonda
Rosetta será acionado. A sonda estará a várias centenas de milhões de
quilômetros da Terra, próxima do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko, uma bola de
gelo, poeira e materiais orgânicos que orbita o Sol a cada seis anos e meio. E
ela pode ser a primeira nave a finalmente pousar sobre um cometa.
O despertar eletrônico da sonda
europeia, que está hibernando há dois anos e meio, irá acionar circuitos e
instrumentos e trazê-la lentamente de volta à vida, em preparação para o seu
desembarque no cometa, um feito inédito na história da exploração espacial.
Os cometas são feitos de escombros
que sobraram do nascimento do sistema solar, há 4,6 bilhões de anos. Cientistas
esperam que, estudando-os de perto, eles possam ajudar a reconstruir a história
de nossa própria vida no espaço. Para completar, muitos astrônomos acreditam
que a maior parte da água que compõe os nossos oceanos foi fornecida por
cometas que colidiram com a Terra durante seu passado remoto. Outros argumentam
que os materiais orgânicos complexos – incluindo aminoácidos – também foram trazidos
ao nosso planeta por esses visitantes celestes e podem ter desempenhado um
papel importante no primeiro aparecimento da vida aqui.
O problema é que os cometas são
objetos complicados para naves espaciais chegarem perto. Eles têm órbitas
imprevisíveis e queimam de forma intensa e rápida quando passam perto do Sol.
Missões anteriores tentavam colidir sondas com os cometas, na esperança de que
o material expelido pudesse revelar pistas sobre seus interiores.
Rosetta, construída e lançada pela
agência espacial europeia a um custo de 1 bilhão de euros, está em uma liga
diferente. Ela foi projetada não para interceptar, mas para perseguir um
cometa, em particular um com uma conhecida órbita estável ao redor do Sol. Lançado em 2 de março de 2004, depois de nove
anos, a caçadora de cometas da Europa está agora se aproximando de seu alvo e
diminuindo a velocidade para alcançá-lo.
“Quando nós apanharmos Churyumov – Gerasimenko, Rosetta estará se movendo
mais ou menos na mesma velocidade que o cometa”, diz Matt Taylor, cientista do
projeto.
Em agosto, a sonda deve circular seu
alvo, mapear sua superfície e, finalmente, em novembro, colocar uma sonda bem
menor, chamado Philae, no cometa, que tem cerca de 2,5 km de largura. A sonda
vai analisar as nuvens de vapor d’água e gases que vão entrar em erupção no
espaço quando o 67P aquecer e lançar uma
grande cauda brilhante de gás.
Mas, primeiro, a chamada de ativação
tem que funcionar. “Se o alarme falhar e Rosetta não despertar, estaremos em
apuros”, diz Mark McCaughrean, conselheiro científico sênior da agência. “No
dia, todos nós estaremos esperando na sala de controle, ansiosos por ouvir um
sinal de Rosetta. No entanto, vai demorar várias horas para o ofício completar
os seus procedimentos de ativação antes de transmitir uma mensagem para a
Terra. Será um dia estressante”, prevê o cientista.
Parte do sistema de Rosetta teve que
ser desligado em 2011. A nave viajou boa parte do tempo próxima do Sol, numa
distância que permitia a alimentação de seus painéis solares. Porém, quando
teve que se afastar para fazer seu encontro com 67P, houve medo que faltasse
energia.
Outro problema é o cometa em si. Ele
foi escolhido porque tem uma rota razoavelmente conhecida. Mas há uma desvantagem
para a escolha de um cometa que passa a maior parte de sua órbita dentro do
sistema solar: seus constituintes voláteis, que dão base para a análise, podem
evaporar muito rapidamente, pelo grande calor. “Em última análise, isso pode
mudar a superfície gelada de um cometa até que ele se parece mais com uma bolha
de asfalto, o que não é o ideal”, diz McCaughrean.
Felizmente, as observações indicam
que 67P/Churyumov-Gerasimenko mudou para a sua órbita atual há relativamente
pouco tempo, depois de um encontro próximo com Júpiter tê-lo puxado para o
interior do sistema solar. A sua superfície deve ser relativamente cristalina
como resultado desse acontecimento.
Mais um problema é a gravidade. O
cometa é tão pequeno que seu campo gravitacional é forte o suficiente apenas
para segurar Philae em sua superfície. A pequena sonda terá de se ancorar ao
cometa com um arpão para evitar ser lançada para o espaço. Da mesma forma, a
sua nave-mãe Rosetta terá que usar seus propulsores para circundar o cometa
porque o campo gravitacional dele é muito fraco para manter a sonda em órbita.
Philae está equipado com uma broca
que vai transportar amostras da superfície para a sonda, na qual estes pequenos
pedaços do cometa serão testados por diferentes dispositivos. Falta menos de um
ano para o encontro, e os cientistas estão ansiosos. “Esta é uma missão que está empurrando os
limites da tecnologia espacial, o que
significa que há riscos envolvidos. Nós simplesmente não sabemos o que iremos
encontrar”, diz o professor Ian Wright, da Open University, que colabora com o
projeto. “Eu tenho trabalhado no projeto há 20 anos, mas tudo poderia dar
errado na última hora. Esse ‘despertar’ em janeiro pode ser a primeira de
muitas coisas a dar errado. E isso pode afetar os nervos”.
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