Em seus
escritórios na marginal Tietê, a editora Abril, um enorme império editorial,
exibe as suas 53 revistas em uma parede, mas essa coleção está prestes a
encolher. Roberto Civita, o presidente da Abril, morreu em maio, o que pegou a
empresa familiar com a guarda baixa. Em uma situação em que já enfrenta
receitas decrescentes, no mês passado a Abril anunciou que demitiria um punhado
de editores sênior e que fundiria suas dez divisões editoriais em apenas cinco.
Analistas especulam que pelo menos dez revistas deficitárias e mil empregos
possam vir a serem cortados nos próximos meses. “O prédio está tremendo”,
afirmou um executivo de marketing.
A Abril não
está sozinha. Em junho a Folha de São Paulo, o maior jornal do país, demitiu 24
funcionários, 6% do pessoal. O Estado de São Paulo também foi atingido. Em
maio, após a morte de seu diretor, Ruy Mesquita, o jornal cortou 50 empregos. O
Jornal da Tarde, que pertence ao mesmo grupo, e que enfrentou a ditadura
militar que governou o país de 1964 a 1985, foi fechado no ano passado.
Avalia-se que a crise tenha eliminado 280 empregos apenas em São Paulo neste
ano. “Estamos no meio de uma tempestade”, afirma Jayme Sirotsky, ex-presidente
da Associação Mundial de Jornais. “Todo mundo está tentando produzir conteúdo jornalístico
de qualidade e ainda assim permanecer lucrativo em um ambiente hostil”.
Essas são
agruras familiares. Convulsões demográficas, desaceleração econômica e a
tecnologia estão comprometendo às editoras brasileiras. As editoras contavam
que os 40 milhões de brasileiros que deixaram a pobreza na década passada
gerariam uma nova onda de assinantes. Em vez disso, a nova classe média passou
a acessar as notícias on-line: quase metade de todos os domicílios tem conexão
à internet hoje em dia.
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