sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

FORÇAS ARMADAS: tecnologia sustentável

“Em uma guerra, a primeira vítima é a verdade”, disse em 1917 o senador americano Hiram Johnson. Ele não relacionou quais seriam as outras, mas uma delas é o ambiente. Afinal, não há sistema que escape ileso aos aviões de caça que queimam açudes de combustível, aos tanques que não deixam nem uma árvore em pé e aos submarinos que dizimam a fauna marinha. Com o objetivo de poupar quem – ou o que – não tem nada a ver com as guerras, os quartéis-generais desenvolvem ideias, produtos e estratégias para provocar o menor estrago possível.


Maior potência militar do planeta, os EUA lideram as iniciativas sustentáveis no campo de batalha. Lá foi criado o Army Environmental Policy Institute (Instituto de Política Ambiental do Exército, em tradução livre). O objetivo do instituto é não só usar a força em terra para defender florestas, mas fazer com que o trabalho dos soldados não prejudique o ecossistema no qual atuam.

“É nossa obrigação garantir que os soldados e suas famílias tenham terra, água e ar necessário para treinar. Isso depende de nossas conquistas em sustentabilidade”, diz a secretária-assistente do Exército americano para Instalações, Energia e Meio Ambiente, Kathleen Hammack. O instituto é responsável pela criação da política do esforço “net-zero”, que estabelece que os danos ambientais sejam compensados em qualquer instalação do Exército, de maneira a não deixar pegadas de carbono para trás. “Precisamos começar com a redução, depois passar para a reutilização, reciclagem, recuperação de energia e, só então, pensarmos no descarte”, diz ela.

Nos aspectos mais práticos da sustentabilidade nas batalhas, um dos projetos dos americanos é o Long Endurance Multi-Intelligence Vehicle, ou LEMV, por exemplo. Trata-se de uma aeronave projetada para voar por até três semanas sem reabastecer. Graças a uma combinação no uso de querosene e eletricidade, ela consome em média 10% do que bebem as concorrentes de porte similar. O protótipo será construído pelos EUA em 2011 e já vai vigiar os céus do Afeganistão. A queda brutal no consumo de combustível também é o que torna mais verde o submarino francês Suffren, que só deve chegar às águas em 2017.

Preocupações e projetos assim ainda não tiram o sono dos responsáveis pelo desenvolvimento de equipamentos verdes para as Forças Armadas brasileiras. Por conta disso, pouca coisa acontece. A assessoria do Exército cita a coleta seletiva em algumas unidades e campanhas educativas como exemplos de ações de responsabilidade ambiental. “Não vejo isso como uma prioridade. Materiais e tecnologias ecologicamente corretos costumam ser mais caros que o normal. Para uma realidade brasileira, na qual chegamos a ter que dispensar pessoal por falta de recursos, como aconteceu no governo Fernando Henrique Cardoso, acho que missões sustentáveis são a última preocupação”, analisa o pesquisador do Núcleo de Estudos Estratégicos da Universidade de Campinas (Unicamp) Luís Alexandre Fuccille.

Enquanto esperamos pelo Exército futurista totalmente comprometido com o meio ambiente, nossos soldados já atuam em programas que ajudam a preservar e proteger o verde nacional. Assim é na Amazônia, onde a presença do Exército ajuda a coibir a ação de madeireiros e extrativistas ilegais. 

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