A expressão desenvolvimento sustentável padece de ambiguidade. A linguagem falada não vale só pelas palavras ditas, mas muito mais pelo tom da voz. Quantas vezes a mesma palavra ofende ou acaricia se pronunciada de uma forma ou de outra. Vale a mesma observação a propósito da palavra escrita: depende de quem escreve.
Assim, se o termo sustentabilidade é escrito por alguém do sistema capitalista atual, significa que se pode dispor dos recursos da Terra para continuar sem sobressaltos a atender ao mercado, ao lucro e ao desenvolvimento tecnológico. Essa trindade capitalista precisa ser mantida. Evitem-se, portanto, novos países emergentes que venham a esgotar rapidamente os bens da Terra e ameaçar o nível de consumo das nações ricas. O caminho se chama restrição de novos candidatos à mesma mesa farta. Moderem-se os gastos a fim de prolongar a vida de consumo do mundo rico. O pavor vem da Ásia com seus bilhões de habitantes. Pois, se eles entrarem na mesma onda consurnista, o bolo da riqueza mundial acabará para todos. Portanto, sustentabilidade significa aí restrição para novos mercados de consumo além dos países que já o ocupam.
Na escrita de um terceiro-mundista, sustentabilidade adquire sentido bem diferente. Inverte-se profundamente o campo de referência. Só pode ser aceito aquele nível de consumo que seja universalizável para toda a humanidade presente e garanta o futuro das gerações vindouras. Isso significa drástica redução dos gastos dos países ricos, sobretudo com o supérfluo, com o consumismo excessivo, com a indústria armamentista, com o uso enlouqnecido de petróleo nos carros e em outros meios de transporte individuais. Com essa gigantesca economia, sobrarão recursos para as gerações futuras e melhorará a vida dos países pobres.
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